domingo, 21 de março de 2010

Não me perguntem
onde a luz floresce
onde a água se acorda nos seios do planeta
Há um incêndio de mulheres
uma chama que coroa o peito da terra
a flor insubmissa ao pólen
o fruto da palavra
a árvore plantando histórias
no silêncio das estradas

O amor redime
a essência divina que há em ter corpo

Graça Magalhaes, 2009, A Geografia do Tempo, Palimage Ed.

sábado, 20 de março de 2010

Sou eu a esperança
uma cidade alegre e táctil
entre a solidão dos velhos
fímbrias de neve

Ouço rebentar o tempo
e não posso sentir
cada gesto de arremesso
Ouço as margens do rio
no corpo aprisionado
a finitude das coisas
que a morte não traz
a demarcar a fronteira

Penso nas palavras admiráveis
entregues a uma terra comum
num lugar primaveril

O que o contorno da cegueira
faz ao rosto
devasta um anjo a dormir
e isso me basta para fechar a noite

Deixarás de ser o milagre do poeta
a incerteza da terra
a dúvida estéril que ocorre
o derradeiro vínculo indivisível
da planta que morre

Graça Magalhães, 2009, A Geografia do Tempo, Palimage Ed.