sábado, 20 de março de 2010

Sou eu a esperança
uma cidade alegre e táctil
entre a solidão dos velhos
fímbrias de neve

Ouço rebentar o tempo
e não posso sentir
cada gesto de arremesso
Ouço as margens do rio
no corpo aprisionado
a finitude das coisas
que a morte não traz
a demarcar a fronteira

Penso nas palavras admiráveis
entregues a uma terra comum
num lugar primaveril

O que o contorno da cegueira
faz ao rosto
devasta um anjo a dormir
e isso me basta para fechar a noite

Deixarás de ser o milagre do poeta
a incerteza da terra
a dúvida estéril que ocorre
o derradeiro vínculo indivisível
da planta que morre

Graça Magalhães, 2009, A Geografia do Tempo, Palimage Ed.

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