domingo, 23 de agosto de 2009

Ao corpo azul das pedras

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Centro de Passiflora manicata / foto Augusto Mota

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Iremos

onde os dedos são manhãs

onde os astros rebentam às flores

onde a geada
estende nêsperas de orvalho

e os peixes vestem escamas de nata

onde há rodas e carrosséis
e crianças de açúcar no regaço
dobando árvores de algodão

iremos

ao corpo azul das pedras
devassar o sossego
das algibeiras

à brancura luminosa
da pele molhada

iremos.

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Graça Magalhães
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in «Saudade», revista de poesia, Junho 2009, nº 11, Amarante, Edições do Tâmega.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Regresso me

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Regresso me
como se o silêncio
coberto a norte
e agitando as mãos
pudesse trazer outra vez
a brisa acrílica das ondas

e pudesse emergir do inferno
regando temporais de fogo
na combustão das saudades
nos molhos de lilases castanhos

Ainda acredito nos insectos
que não mordem intervalos de pele.
e adormeço o silêncio
das tardes alagadas

Nos meus olhos escorregavas a boca
pela nuca de salsa
e eu corria a imensidão do planeta entre as
mãos.

Graça Magalhães.