domingo, 13 de dezembro de 2009

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Praia do Vale Furado / Foto: Augusto Mota
6.
Do lugar onde nasci
crescem flores de caju
prometem-se aos olhos
a caligrafia das paisagens
o movimento dos rios
a simples constelação das flores
em torno dos caules

São como traços de rubi os animais
satélites gráficos voadores
sobre ramos genuflexos
iluminando as noites mal fechadas

eu era pequena
trouxe a memória ocre das falésias
um rapaz ostra dentro do peito
as rosas de açafrão despindo as saias

Graça Magalhães,(2009), A Geografia do Tempo, Palimage ed.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"A Geografia do Tempo"















Decorreu, no passado dia 7 de Novembro, o lançamento de um novo livro de poesia apresentado por Porfírio Al Brandão.


Alguém de quem pouco se ouve falar resolve mostrar as coisas que andou a escrever enquanto vive como mulher poema, sempre a braços com as palavras para uma nova geração.
Esse é o desafio. Criar novas imagens com as palavras, esperar que elas digam mais do que as próprias palavras.

Para tentar perceber como respira o coração. Como se sobrevive à melancolia dos dias ou como se rompe com as coisas sempre iguais nos dias que se querem desiguais.

O acordeão de Paulo Pires acompanhou este incêndio, este voo feliz entre a música e as palavras numa interpretação que não colocou limites à emoção.








































Paulo Pires e Sofia Magalhães




O piano de Catarina Barros e o clarinete de Fausto Silva trouxeram um toque de frescura a este recital de apresentação que chamou ao palco Jorge Fragoso, Sofia Magalhães e a autora, para a leitura de alguns poemas de um livro que hoje é já uma parte da "Geografia do Tempo".




Catarina Barros e Fausto Silva























Jorge Fragoso e Sofia Magalhães



Graça Magalhães


Não se espere encontrar neste livro um tratado de geografia ou um dicionário de memórias. O que é constante e permanente, incontornável, diria mesmo, é o passado que se estende ao presente e traz consigo, na poesia, uma mensagem de esperança.

Nas palavras de Eduardo Pacheco (360 graus de poesia, Paradoxosdoedu.blogspot.com).

"Poesia são sonos que vou dormir com o tempo que me resta até ser hoje. É poesia chegar ao fim do copo às vezes sem beber uma única palavra. Acrescentar mais uma hora à eternidade e entornar à tona da tua boca todos os desejos que sorvo quando não escrevo por ser silêncio o tempo que te basta para ser feliz. São poesia corpos de água que peço ao céu para te embriagar com doses de esquecimento. São poesia sons que me ensurdecem pela garganta abaixo. Arcos de quem flecha no meio dum coração em pá de aços. Aguarelas de chuvaque se fazem eco caindo em cadatupa de duas gotas.
São poesia dardos em direcção ao oeste este incêndio à flor da pele este barco estes remos contra a maré estas asas este voo enevoado estes dedos de beliscar as estrelas depois das palavras. São poesia céus para voar transformados em obstáculo. Pontos cardeais que não chegam a nenhum poente. Caminhos de andar desnorteado entre o norte e o luar. Enxadas que descascam a paisagem. Sinais de fumo que nos atravessam em procissão poesia as fracturas de luz e de traços de alegria e cores de azul"



Por tudo isto faço dela um lugar para existir e somar palavras à finitude do tempo que se deseja eternizar.
A todos os que se juntaram a este evento, o meu agradecimento.





Catarina Barros, Fausto Silva, Jorge Fragoso, Américo Nunes, Porfírio Al Brandão e Graça Magalhães
























Graça Magalhães




Fotografia: António Oliveira, Amofotografia, Viseu.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Lançamento do Livro "A Geografia do Tempo"

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À Mulher - Poema

de Porfírio Al Brandão

Dedico esta apresentação à Graça Magalhães e ao Jorge Fragoso e, com um certo secretismo, à Duendita e aos inspiradores dois "Jotas".

Na geografia do tempo
a forma tem a concha das palavras
Visitam-me acácias ao fim da tarde
Numa veia de África a rua está
no gesto que acende as mãos
No fogo conduzem os olhos corais
ao barroco da estrada
Desço o caudal das pálpebras
na forma breve dos pássaros
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Graça Magalhães (2009), "A Geografia do Tempo", poema 27, Palimage Ed.
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A Geografia do Tempo é o quarto livro de Graça Magalhães. Nele permanecem, como nos anteriores, elementos autobiográficos cravados na espinha de cada poema. África, infância, afectos, emoções, aforismos, uma paixão pelo real, um sensacionalismo dado pela polpa de uma epopeia mágica de metáforas cárneas e imagens. Não digo que seja um livro de afectos, não concordo, porque vejo este livro como mais um membro do corpo literário da poeta, o seu "farrapo de carne nerrativa" utilizando a expressão de Paulo da Costa Domingos. A Geografia do Tempo é um mapa que devemos ler não de forma linear, mas confiando no instinto de aceder a prolepses e analepses no corpo narrativo, avanços e recuos num tempo consubstanciado em espaço. "Nada deve ser dito sobre um livro que se dá ao leitor", diz informado o meu amigo Martim de Gouveia e Sousa.Verdade. E Novalis sublinha "Urge que o verdadeiroleitor seja o autor aumentado". Verdade.Mas aí eu falo: o verdadeiro poeta é o leitor, aquele que incendeia o sangue do poeta adormecido nas palavras gravadas no papel, aquele que empresta o seu sangue vivo para ressuscitar, expandir e alumiar o sangue seco no livro dopoeta fisicamente não presente. Um alquimista do silêncio. Não se deve dizer "sobre" mas "celebrar com", contagiar os outros com a nossa leitura, uma das muitas possíveis. Só assim perpetuamos a memória de quem gostamos. A poesia não tem grande público, já sabemos, mas Charles Bernstein, um alarmado poeta e teórico da L=A=N=G=U=A=G=E ( e aqui agradeço à Cristina Nery pelo facto de ter sido ela quem mo deu a conhecer) diz-nos que "O que se deve lamentar não é a falta de um grande público para um qualquer poeta, mas a falta do pensamento poético enquanto potencial activado para toda a gente" e também arrisca dizer que "A poesia deve ser pelo menos tão interessante como a televisão e bastante mais surpreendente". O que concluo daqui é que há uma formatação social em cada um de nós que é necessário desconstruir para caminharmos confortavelmente nos trilhos da poesia. Podemos começar da forma como vemos o poeta.E aqui cito Graça Capinha "não há poetas com "P" grande e poetas com "p" pequeno. Há poetas. Gente que trabalha ludicamente o material sonoro". Antes dela disse-o também o saudoso Agostinho da Silva, naquele seu jeito especial, refrescante: "cada um é o poeta que é".
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Quero agora partilhar convoosco o que me incendiou neste novo livro da Graça Magalhães, que congregando-se com os livros anteriores permite a visualização do périplo íntimo das palavras da poeta que tem como confidentes os pássaros. Em A Geografia do Tempo descobri no poema 38 um vórtice que me levou a um outro, o poema 5. Reconstituo o momento.Chegado aqui, entusiasmado com o mapa nas mãos, cartografando o tempo com todos os sentidos e mais alguns, sobressaltou-me um calafrio...lembrei-me de um poema do poeta Al Berto, já desaparecido fisicamente entre nós, mas sempre presente pela obra que nos deixou como sua herança. Com ele termino esta intervenção. "Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida".
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Bem-haja, Graça Magalhães
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Porfírio Al Brandão, 7 de Novembro 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

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Hibisco (Hibiscus rosa-sinensis)
foto: Augusto Mota

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Infante
anjo menino
ao ouvido da memória
traço oblíquo de silêncio
um sulco de púrpura
também fascínio
quero zarpar um rio
a aveleira azul
e um ramo de lâminas.

Morrer devagar
coagular devagarinho
o sangue em brasa.

Graça Magalhaes, Novembro 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

Convite

Clicar no CONVITE para o ampliar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

15. Atravesso desbotados
anjos que o tempo não devolve

existências de água e vento
onde habitam sons de prata
eternidade por dentro
desassossego que mata

carne acesa a desistir
inteira o que a tristeza deseja
para que tudo cante
o lembrar a cada instante

a única solidão.

Graça Magalhães, Na Memória dos Pássaros, 2º ed., Ed. Palimage.

sábado, 19 de setembro de 2009

Em memória do meu pai, deixo este dia em tons vermelho
e um poema de amor eterno.


4. Mais nada nos pode juntar nos cajueiros

fazer o tempo crescer
o fruto a cada instante
as torrentes internas
de palavras cheias de som

quando éramos futebol
contentamento
cartas ao domingo
o xadrez
matar de tempo.

.../... guardo tudo tudo
do tempo vertiginoso.

Graça Magalhães, 2006, Na Memória dos Pássaros, 2ª ed., Ed. Palimage

domingo, 23 de agosto de 2009

Ao corpo azul das pedras

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Centro de Passiflora manicata / foto Augusto Mota

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Iremos

onde os dedos são manhãs

onde os astros rebentam às flores

onde a geada
estende nêsperas de orvalho

e os peixes vestem escamas de nata

onde há rodas e carrosséis
e crianças de açúcar no regaço
dobando árvores de algodão

iremos

ao corpo azul das pedras
devassar o sossego
das algibeiras

à brancura luminosa
da pele molhada

iremos.

*

Graça Magalhães
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in «Saudade», revista de poesia, Junho 2009, nº 11, Amarante, Edições do Tâmega.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Regresso me

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Regresso me
como se o silêncio
coberto a norte
e agitando as mãos
pudesse trazer outra vez
a brisa acrílica das ondas

e pudesse emergir do inferno
regando temporais de fogo
na combustão das saudades
nos molhos de lilases castanhos

Ainda acredito nos insectos
que não mordem intervalos de pele.
e adormeço o silêncio
das tardes alagadas

Nos meus olhos escorregavas a boca
pela nuca de salsa
e eu corria a imensidão do planeta entre as
mãos.

Graça Magalhães.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

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Muito grande plano de pétalas de rosa orvalhadas
Foto de Augusto Mota
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Canso-me de acordar o princípio da demência
De voltar e perguntar sem responder

Ocupo-me de velar pelo som do tempo
De procurar a chuva certa o minuto a dobrar
de abraçar o coração do boi dentro do silêncio
De saber a pedra encontrar o rio nos pés

Ocupo-me de perguntar
E gostaria que o meu coração pudesse amanhecer
nas amêndoas vermelhas de uma árvore cheia de mãos.

Graça Magalhães, Julho, 2009

quarta-feira, 29 de julho de 2009

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Talvez eu não seja o tempo interior

a cereja das árvores no cio

a lagarta coração invadindo a flor

o fluir dos lábios ao começo das palavras

o encantar do silêncio nos pessegueiros.


Graça Magalhães, 2008, Lavrar no Corpo das Algas, Palimage Ed.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

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Jarro Laranja / foto de Augusto Mota
41.
**
Quando ela morrer num apresto de festa
inseparável do mistério da sua boca
ficarão as palavras horizontais
no rosto assimétrico das lágrimas.
Ficarão as macieiras perfumadas
os segredos arqueados
arrancados ao peito em foices de prata.
Ficará o corpo deformado intenso de aromas
a dor do xisto nas ardósias e nos gritos
e um país contemporâneo.
Ficará a imagem das flores acumuladas
num altar azul sob os ombros dela
ficará o rosto fechado na linha dos olhos
O sorriso poisado a ternura imóvel
e a terra fresca aumentada toda aberta.
Ela poderá aí dormir com os olhos dos insectos.

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Graça Magalhães, 2006, Na Memória dos Pássaros, Palimage Ed.

domingo, 5 de julho de 2009

Pássaros de Silêncio - Xerófilas

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Xerófilas - desenho de Augusto Mota (1960), 32 x 38,5 cm.
Café e tinta-da-china



1
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Entre as folhas e o tempo
despertam pássaros de silêncio
única fronteira de ventos
a cobrir de olhos salgados
restos de divisão
lábios fechados

depois acendo a boca e o adeus perfeito
onde nascem laranjas do peito....
aves inquietas

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GRAÇA MAGALHÃES, in «Na memória dos pássaros», "Palimage Editores", Viseu, 2006, 2ª edição, p.4.

sábado, 6 de junho de 2009

Sem mais...

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Papoila-das-searas (Papaver rhoeas) - foto: Augusto Mota
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Sem mais arrefecer-me o sangue
que venha
o incenso descampado
de flores em movimento
de olhos fechados
oferecer-me a boca.
Há escaparates
de mãos ardentes
E uma sede feroz.

Que venha
um deus de fogo
o tempo jurado contra a noite
os pântanos que a morte tem.
Na cintura do parque,
os ossos dilatam-se,
e eu tenho a chave da noite.

Graça Magalhães

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Devo ter deixado tudo...

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Veios de uma velha oliveira com manipulaçao cromática.
foto:Augusto Mota
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Estendo a vertigem
saio do percurso
quando pouso
as noites nos quadris
não. deve haver chuva
onde tu a esperas
nua
entre as pedras
ao longo do gelo
já não encontro noite
uma lanterna.
devo ter deixado tudo
no silêncio da manhã.

Graça Magalhães

sábado, 9 de maio de 2009

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Gazânia (Gazania rigens) - foto Augusto Mota


28.
Assim corre o orvalho
A bebedeira dentro das flores
assim corre a geada dos canais
a adoçar os olhos das mulheres
na memória dos pássaros.

Os homens deitam-se nos medos
Dormem pensamentos nos telhados
Fecham o sexo das mulheres.

Nunca se pode dizer a boca
Molhar os dedos cruzar a língua
Abrir a porta sem um trinco de correr
Dizer a casa e o escondido das jóias pretas
As meias de carne a correr, o gato verde.

O branco é o centro
E o centro devora.


29.
Uma casa branca
Plantada no meio do cio.

Porque as casas são de dentro
Pureza sem descanso
De estar breve em eternidade
Dentro do fim.

Pássaros

Onde a força da corrente não é um hábito.
Onde a vida é um erotismo na garganta
Original de fenda em flor a abrir

Segredos arrasados
No raiz do imaginário

Entrecortado

De soluços como lírios
No vidro das paisagens.


Graça Magalhães, Na Memória dos Pássaros [2006], Palimage

segunda-feira, 27 de abril de 2009

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Campos do Vale do Lis / foto: Augusto Mota

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22.

Amo nos olhos que tomaste
com as mãos
as palavras que escrevo e amargo
o silêncio que devolve
o cérebro a doer
o coração em ferida
o líquido castanho dos olhos
quando se esbate como campos que devastam.

Amo o caminho que se alonga nos dias
os labirintos que se inflamam direitos aos alvéolos.

Só quero adoecer nos meus lugares e morrer nas tuas mãos.

Graça Magalhães, Lavrar no Corpo das Algas [2008], Palimage.

sábado, 25 de abril de 2009

Pampilho-Sol-da-Liberdade



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Pampilho-das-searas (Chrysantemum segetum)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Devo ter deixado tudo...

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Giesta bicolor (Cytisus scoparius 'Andreanus')
Foto de Augusto Mota, 20.04.2009
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Estendo a vertigem
saio do percurso
quando pouso
as noites nos quadris
não. deve haver chuva
onde tu a esperas
nua. entre as pedras
ao longo do gelo
já não encontro noite
uma lanterna.
devo ter deixado tudo no silêncio da manhã.



sexta-feira, 17 de abril de 2009

o cavalo de espelhos

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não sei que pecado
pudesse guardar
nunca foi para mim
o cavalo de espelhos
a frescura de um orvalho
depois da noite.

Apenas o amor mais inconveniente
me pareceu o único sentido.
*

segunda-feira, 13 de abril de 2009

FOTOPOEMA

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in «A Memória dos Pássaros»,
Palimage Editores, 2006, 2ª edição, p.11
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Clicar na foto para a ampliar

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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Os amigos

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Os amigos são pulmões de açúcar
Ponto pérola de encanto
Girassóis que nos acendem o sol
Como interruptores de salvação

Plantações africanas de algodão doce
que adormecem a paisagem das lágrimas

atravessam savanas devastadas
serpentinas de vento
desolação
na vaga recordação da cor que há
em cada sombra de tristeza.

É assim que tu és
Entre todas as noites do planeta
A mais acesa quando as estrelas desenham
O caminho das palavras num avião de papel
Branco como a farinha das pétalas
Arrancadas a uma primavera
E com ele desenhas um búzio de som
Que enfeitas no espaço com as mãos
Onde me recolhes num abraço frágil
Como a noite em que me encontro agora
Mesmo quando é dia e o sol já se aclamou no horizonte.

Lembro-me de quando disseste o meu nome
Como se pudesses acreditar
Que eu era poeta
De palavras ideias e imagens
Escondidas em cada folha de pele
Atrás um mural de sorrisos inquietos
Os deuses implacáveis prestavam-se a julgar-me
E tu salvaste-me com o olhar
E acreditaste no princípio do nome
Na evocação das coisas proibidas
Que eu partilhei como estilhaços de granada.

Lembro-me das tardes
Em que esgrimimos as palavras do poema
E juntos tornamos menos só
a arte de dizer o crime com propriedade
sem medo incendiando a verdade.

Temos medo
Das doenças dos amigos
Como de fósforos na mão de uma criança
Sem eles desistimos de acrescentar um rio
Descaracterizamos todo o esqueleto
De imagens que são o nosso eu mais fundo

De aprender o que acontece
Depois da nossa idade

Deixamos de saber exactamento como acontecemos
Sem palavras de infinito a ameaçar o puro inferno
Dos dias que os pássaros transformam
No limiar da esperança.

Nesse lugar
Voamos com os amigos
Para dias que não queremos habitar
Por um instante
Onde quer que sejamos
Não seremos tão sós
A subverter o infinito.

Graça Magalhães, Dez/2008

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do livro Na Memória dos Pássaros estes 3 poemas

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1
Entre as folhas e o tempo
Despertam pássaros de silêncio
Única fronteira de ventos
A cobrir de olhos salgados
Restos de divisão
Lábios fechados

depois acendo a boca e o adeus perfeito
onde me nascem laranjas amargas do peito
*
2
Nos pólos de um rosto
Sei o respirar da voz.

nada existe de dizer

o branquear da luz
na lava carne dentro

o vento de alegria nas palavras

coisas breves e redondas
*
3
Deito-me ao caminho da memória
das sombras a enganar a noite
a derrubar milagres de luz
pássaros errados de olhos fechados
à procura do tempo.



in Na Memória dos Pássaros, de Graça Magalhães, 2006, Palimage

quem sou

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"…nasceu em África a 29 de Agosto de 1963, residindo actualmente em Viseu.
Encontram-se publicados os seguintes livros: Corpo de Rio [2005], Na Memória dos Pássaros [2006] e Lavrar no Corpo das Algas [2008].
Colaboradora em antologias e revistas literárias como Palavras de Vento e de Pedra , Oficina de Poesia, e Os dias do Amor."
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