domingo, 9 de maio de 2010

Ame-se o rio

Ame-se o rio
a luz fechada
o horizonte do medo
o mar total igual à luz do vinho

Ame-se o beijo ao domingo
mais que o sentido
o pão do silêncio
na hora em que se chora
o que não foi feito e foi perdido

Ame-se o que não possuímos

o sorriso amável
a arder palavras
a ferida aberta
a tristeza mal fechada

Ame-se o amado que não ame
a fortaleza da pedra que se anima

Ame-se a ternura do silêncio
para levedar o amor

deixa-me soletrar
quanta indiferença
tenhas em casa
para atravessar a paixão

Creio na mágoa amarela
creio na indiferença do amor.

Graça Magalhães, 2009, A Geografia do Tempo, Palimage Ed.