domingo, 28 de novembro de 2010

28. Arde minha mãe
ferida na luz
de suas mãos

Este é seu lugar

um útero de rosas
uma floração líquida
de lírios quase brancos
desenhados
como rugas que rebentam
milímetros de tempo

A roupa cerca-nos
agora que deixámos
o bater do coração
Deixámos de cantar
a verdade possível do tempo
que a mágoa extensa alastra

A estranheza é a de haver cinza
sem ter corrido o fogo
e neste incêndio não haver perda

Só o vazio das mãos.

Graça Magalhaes, (2009) A Geografia do Tempo, Palimage Ed.