É esperar que aconteça
antes de terminar
que se mantenha na retina da pele
o sol de cada noite pequena
no dia sem ontem e amanhã.
esperar
uma fissura na muralha do tempo
o anjo dos pássaros
a canção de estrelas nos meus lábios
um coração azul a cintilar.
Esperar o desespero diurno
De quem se alimenta de nada
De quem pede tão pouco
E se ilumina por beijar
A imagem do abandono.
Graça Magalhães, 1 de Outubro 2011
sábado, 1 de outubro de 2011
domingo, 28 de novembro de 2010
28. Arde minha mãe
ferida na luz
de suas mãos
Este é seu lugar
um útero de rosas
uma floração líquida
de lírios quase brancos
desenhados
como rugas que rebentam
milímetros de tempo
A roupa cerca-nos
agora que deixámos
o bater do coração
Deixámos de cantar
a verdade possível do tempo
que a mágoa extensa alastra
A estranheza é a de haver cinza
sem ter corrido o fogo
e neste incêndio não haver perda
Só o vazio das mãos.
Graça Magalhaes, (2009) A Geografia do Tempo, Palimage Ed.
ferida na luz
de suas mãos
Este é seu lugar
um útero de rosas
uma floração líquida
de lírios quase brancos
desenhados
como rugas que rebentam
milímetros de tempo
A roupa cerca-nos
agora que deixámos
o bater do coração
Deixámos de cantar
a verdade possível do tempo
que a mágoa extensa alastra
A estranheza é a de haver cinza
sem ter corrido o fogo
e neste incêndio não haver perda
Só o vazio das mãos.
Graça Magalhaes, (2009) A Geografia do Tempo, Palimage Ed.
sábado, 9 de outubro de 2010
Sei o que é morrer-te
como árvore que clama
como pássaro de sul
invade-me a saudade
na esperança que gera uma flor.
Para que em todas as árvores
floresçam aves
há um labirinto de sol
uma copa uma casa
um ramo que percorre a gravidade
até que o fogo se alastre
com a mansa morte do vento.
Chamo-te ao corpo
cobro-te as palavras
ainda hoje
porque amanhã me vou embora
a ser pedra chão árvore a fecundar.
Graça Magalhães, 9 Outubro 2010
como árvore que clama
como pássaro de sul
invade-me a saudade
na esperança que gera uma flor.
Para que em todas as árvores
floresçam aves
há um labirinto de sol
uma copa uma casa
um ramo que percorre a gravidade
até que o fogo se alastre
com a mansa morte do vento.
Chamo-te ao corpo
cobro-te as palavras
ainda hoje
porque amanhã me vou embora
a ser pedra chão árvore a fecundar.
Graça Magalhães, 9 Outubro 2010
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Declaro-te um rio
Esta é a neve maior
e eu chamo
Declaro-te
pássaro que me invade
como relâmpago
desarrumo oásis nos olhos
onde flutuam sais de fogo
como quem vê passar
um êxtase de silêncio
um traço de pele
unindo as mãos ao corpo
a boca ao interior dos lábios
o céu dentro de um vestido
flutuam indícios sobre o peito
desarma-se a tremura
nessa forma sublime
um rio
intensíssimo de bátegas
onde tudo acontece
fitas coloridas
medula ardente
o fascínio da pedra
onde se agita o fogo
num ponto de luz.
Graça Magalhães (2009), A Geografia do Tempo, Palimage
Esta é a neve maior
e eu chamo
Declaro-te
pássaro que me invade
como relâmpago
desarrumo oásis nos olhos
onde flutuam sais de fogo
como quem vê passar
um êxtase de silêncio
um traço de pele
unindo as mãos ao corpo
a boca ao interior dos lábios
o céu dentro de um vestido
flutuam indícios sobre o peito
desarma-se a tremura
nessa forma sublime
um rio
intensíssimo de bátegas
onde tudo acontece
fitas coloridas
medula ardente
o fascínio da pedra
onde se agita o fogo
num ponto de luz.
Graça Magalhães (2009), A Geografia do Tempo, Palimage
domingo, 9 de maio de 2010
Ame-se o rio
Ame-se o rio
a luz fechada
o horizonte do medo
o mar total igual à luz do vinho
Ame-se o beijo ao domingo
mais que o sentido
o pão do silêncio
na hora em que se chora
o que não foi feito e foi perdido
Ame-se o que não possuímos
o sorriso amável
a arder palavras
a ferida aberta
a tristeza mal fechada
Ame-se o amado que não ame
a fortaleza da pedra que se anima
Ame-se a ternura do silêncio
para levedar o amor
deixa-me soletrar
quanta indiferença
tenhas em casa
para atravessar a paixão
Creio na mágoa amarela
creio na indiferença do amor.
Graça Magalhães, 2009, A Geografia do Tempo, Palimage Ed.
a luz fechada
o horizonte do medo
o mar total igual à luz do vinho
Ame-se o beijo ao domingo
mais que o sentido
o pão do silêncio
na hora em que se chora
o que não foi feito e foi perdido
Ame-se o que não possuímos
o sorriso amável
a arder palavras
a ferida aberta
a tristeza mal fechada
Ame-se o amado que não ame
a fortaleza da pedra que se anima
Ame-se a ternura do silêncio
para levedar o amor
deixa-me soletrar
quanta indiferença
tenhas em casa
para atravessar a paixão
Creio na mágoa amarela
creio na indiferença do amor.
Graça Magalhães, 2009, A Geografia do Tempo, Palimage Ed.
domingo, 21 de março de 2010
Não me perguntem
onde a luz floresce
onde a água se acorda nos seios do planeta
Há um incêndio de mulheres
uma chama que coroa o peito da terra
a flor insubmissa ao pólen
o fruto da palavra
a árvore plantando histórias
no silêncio das estradas
O amor redime
a essência divina que há em ter corpo
Graça Magalhaes, 2009, A Geografia do Tempo, Palimage Ed.
onde a luz floresce
onde a água se acorda nos seios do planeta
Há um incêndio de mulheres
uma chama que coroa o peito da terra
a flor insubmissa ao pólen
o fruto da palavra
a árvore plantando histórias
no silêncio das estradas
O amor redime
a essência divina que há em ter corpo
Graça Magalhaes, 2009, A Geografia do Tempo, Palimage Ed.
sábado, 20 de março de 2010
Sou eu a esperança
uma cidade alegre e táctil
entre a solidão dos velhos
fímbrias de neve
Ouço rebentar o tempo
e não posso sentir
cada gesto de arremesso
Ouço as margens do rio
no corpo aprisionado
a finitude das coisas
que a morte não traz
a demarcar a fronteira
Penso nas palavras admiráveis
entregues a uma terra comum
num lugar primaveril
O que o contorno da cegueira
faz ao rosto
devasta um anjo a dormir
e isso me basta para fechar a noite
Deixarás de ser o milagre do poeta
a incerteza da terra
a dúvida estéril que ocorre
o derradeiro vínculo indivisível
da planta que morre
Graça Magalhães, 2009, A Geografia do Tempo, Palimage Ed.
uma cidade alegre e táctil
entre a solidão dos velhos
fímbrias de neve
Ouço rebentar o tempo
e não posso sentir
cada gesto de arremesso
Ouço as margens do rio
no corpo aprisionado
a finitude das coisas
que a morte não traz
a demarcar a fronteira
Penso nas palavras admiráveis
entregues a uma terra comum
num lugar primaveril
O que o contorno da cegueira
faz ao rosto
devasta um anjo a dormir
e isso me basta para fechar a noite
Deixarás de ser o milagre do poeta
a incerteza da terra
a dúvida estéril que ocorre
o derradeiro vínculo indivisível
da planta que morre
Graça Magalhães, 2009, A Geografia do Tempo, Palimage Ed.
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